Os autismos, os tratamentos, seus pais e a psicanálise

No dia 02 de abril comemoramos o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo. Esta data foi criada pela Organização das Nações Unidas em 18 de dezembro de 2007 para a conscientização acerca dessa questão.

O termo Autismo foi criado no ano de 1908 pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler para descrever a fuga da realidade para um mundo interior observado em pacientes esquizofrênicos.

Em 1943 Leo Kanner publicou a obra “Distúrbios  do Contato Afetivo” descrevendo 11 casos de crianças com um ‘isolamento extremo desde o início da vida e um desejo obsessivo pela preservação de mesmices’, para caracterizar esse distúrbio ele usou o termo Autismo infantil precoce, pois os sintomas eram evidentes nos primeiros anos de vida e observava-se nessas crianças a presença de maneirismos motores e tendência na repetição de palavras. 

Já no ano de 1944 Hans Asperger escreve o artigo “A psicopatia autista na infância”, destacando a ocorrência preferencialmente em meninos, que apresentam falta de empatia, baixa capacidade de fazer amizades, conversação unilateral, foco intenso e movimentos descoordenados.


O que é Autismo?


O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) reúne desordens do desenvolvimento neurológico presentes desde o nascimento ou começo da infância. Sendo elas: Autismo Infantil Precoce, Autismo Infantil, Autismo de Kanner, Autismo de Alto Funcionamento, Autismo Atípico, Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra especificação, Transtorno Desintegrativo da Infância e a Síndrome de Asperger.

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5 pessoas dentro do espectro podem apresentar déficit na comunicação social ou interação social (como nas linguagens verbal ou não verbal e na reciprocidade socioemocional) e padrões restritos e repetitivos de comportamento, como movimentos contínuos, interesses fixos e hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais. Todos os pacientes com autismo partilham estas dificuldades, mas cada um deles será afetado em intensidades diferentes, resultando em situações bem particulares. 


Compreenda


Atualmente existem inúmeras terapias que tem o intuito de auxiliar no tratamento das pessoas que se enquadram no TEA.

Com o mundo cada vez mais globalizado têm surgido muitas terapias que prometem milagres. Mas a realidade é que ainda não existem pesquisas suficientes que determinem uma causa orgânica que justifique tal característica e por isso não existe uma terapia que se mostre mais eficaz em detrimento de outra. 

No entanto, a pesquisa científica sempre concentrou esforços no estudo da predisposição genética, analisando mutações espontâneas que podem ocorrer no desenvolvimento do feto e a herança genética passada de pais para filhos. Contudo, já há evidências de que as causas hereditárias explicariam apenas metade do risco de desenvolver TEA. Fatores ambientais que impactam o feto, como estresse, infecções, exposição a substâncias tóxicas, complicações durante a gravidez e desequilíbrios metabólicos teriam o mesmo peso na possibilidade de aparecimento do distúrbio.

O TEA afeta o contexto social do sujeito, dificultando os laços afetivos, e os primeiros sinais podem ser notados em bebês de poucos meses. No geral, uma criança do espectro autista apresenta os seguintes características:


  • Dificuldade para interagir socialmente, como manter o contato visual, expressão facial, gestos, expressar as próprias emoções e fazer amigos;

  • Dificuldade na comunicação, optando pelo uso repetitivo da linguagem e bloqueios para começar e manter um diálogo;

  • Alterações comportamentais, como manias, apego excessivo a rotinas, ações repetitivas, interesse intenso em coisas específicas, dificuldade de imaginação e hipersensibilidade ou hiposensibilidade sensorial.


Formas de tratamento e acompanhamento


Para o tratamento da criança, adolescente ou adulto do TEA é necessário acompanhamento multidisciplinar, composto por pediatra, psiquiatra, neurologista, psicólogo(a), fonoaudiólogo(a) e terapeuta ocupacional. A conduta indicada vai depender da intensidade do distúrbio e da idade do paciente e deve ser decidido junto aos pais.

Todas as formas de intervenção têm o intuito de auxiliar na participação desses sujeitos à vida social e são todas eficazes cada uma a seu modo. O importante é que cada profissional que auxiliará  no desenvolvimento dessas crianças, adolescentes e adultos os vejam como cidadãos de direitos e sujeitos que têm um modo particular de enxergar e estar no mundo, pois todos nós temos nossas particularidades e uma jeito específico de estabelecer o laço social.

Em linhas gerais, o tratamento associa diferentes terapias para auxiliar na melhora no convívio social, comunicativo e organizacional.  A rotina de cuidados pode abranger intervenções que ajudem a comunicação funcional e espontânea; jogos para incentivar a interação com o outro; aprendizado e manutenção de novas habilidades; e o apoio a atitudes positivas para contrapor dificuldades comportamentais.

Outro elemento essencial no tratamento é o acompanhamento feito pelo profissional psicólogo com os familiares. O contexto familiar é fundamental no aprendizado de habilidades sociais e o trabalho com os pais traz grandes benefícios na interação social desses sujeitos. Também é comum que os profissionais que tratam a criança indiquem acompanhamento psicológico para a família, devido ao desgaste emocional que o distúrbio pode provocar.

 

Como a psicanálise e um psicanalista pode auxiliar no tratamento do TEA


Mesmo com o advento e o grande apelo midiático às ditas terapias comportamentais. 

A psicanálise foi uma das primeiras abordagens psicológicas que mostraram grandes avanços no cuidado das pessoas que se enquadram dentro do TEA e no auxílio aos familiares. 

Atualmente há um grande preconceito com relação à intervenção de um psicanalista, pois como mostra a história da psicanálise há a interpretação de que esta abordagem visa o julgamento dos pais das crianças autistas. Mas isso é um engano!!!!

A psicanálise trabalha muito sobre a relação pais e filhos, não apenas no autismo, mas na formação do sujeito psíquico que não se dá, todos sabem, por automatismos biológicos.

A psicanálise não está a serviço de um julgamento moral dos pais. Aliás, ela sabe que tal postura não contribui em nada na construção de um enlace entre eles e o filho. O que a práxis analítica revela é que algo atrapalha o estabelecimento deste vínculo fundamental para a constituição subjetiva da criança.

O encontro de pais e filhos com um psicanalista pode ajudar os primeiros a conhecer melhor a criança que tem, suas dificuldades e possibilidades, na direção de um vínculo significante entre as partes envolvidas. Quanto antes isso ocorrer, melhor será o prognóstico. E por isso a psicanálise tem trabalhado cada vez mais no âmbito da intervenção precoce.

O nascimento de um filho com problemas de desenvolvimento é motivo de muita angústia para os pais. Sofrimento intenso que pode ensejar modos particulares de defesa que dificultem ainda mais a relação entre pais e filhos.

Enfim, a psicanálise está a serviço de ajudar pais e filhos no enfrentamento do que os faz sofrer, apontando a flecha do tratamento no sentido da constituição de um sujeito imerso no mundo da linguagem e da relação com o outro. Para isso é fundamental a participação dos pais no tratamento do filho. Já não se trata mais de alijar os cuidadores responsáveis pela criança do espaço clínico, mas, ao contrário, de ajudá-los a se autorizar do exercício de suas funções parentais com suas dificuldades e incertezas com as quais todos nós, pais, convivemos com nossos filhos, sejam autistas ou não.


A psicanálise não julga, a psicanálise escuta o sofrimento e sua verdade para que o sujeito possa se assenhorear de sua vida.


Tem dúvidas e quer saber mais sobre a prática do psicanalista no tratamento dos autismos entre em contato conosco pelo whatsapp e agende sua consulta!!!!